…vem não se sabe bem de onde, traz bolinhas de sabão. Sabe como olhar e para quem… Traz os receios e as dúvidas no ar. Traz consigo um balão gigante saído de banda desenhada mas por preencher. Não tem rosto! Traz uma confusão serena. Diz-te com os olhos que não tem, que deves sentir… Faz-te logo questionar porquê mas não te dá respostas.
Senta-se ao teu lado sem corpo. Sussurra-te ao ouvido que estás perplexo, que não devias resistir. Faz-te zangar. Julgas-te louco! Mostra-te borboletas, que te parecem saídas do teu estômago… Sentes-te na montanha russa da vida. Desesperas porque continuas sem perceber porquê nem o que quer de ti. Queres dar-lhe um nome mas não sabes sequer que género lhe atribuir. De repente gritas-lhe e rapidamente te apercebes que o fazes é contigo mesmo, que ninguém te ouve, que de facto gritaste em silêncio.
Sem Género, chamemos-lhe assim, ri-se no teu ouvido direito. Diz “baixa a guarda!” Do quê? Pensas tu!
Completamente envolto na idiotice que é ter uma conversa ou pensamentos desalinhados da realidade, sais para a rua na esperança de partilhar o que acaba de te acontecer mas Sem Género persegue-te. Conta-te os passos diz-te até onde deves ir. Não conheces tal sítio, não consegues pronunciar o nome novamente de tão complexo que é. Tentas ignorar. Sentes-te frustrado por não conseguir escapar mas na realidade não queres fazê-lo e não sabes explicar porquê. O que sabes é que nem a tua consciência alguma vez te despertou tal interesse e vontade que não sabes de onde vêm nem como apareceram. Páras. Olhas em volta na esperança de te identificares com algo mas em vez disso vês antes um cartaz que aponta na tua direcção. Desta vez Sem Género dá gargalhadas e rebola no chão. Goza-te e pergunta-te se ainda não estás cansado e quanto mais tempo tencionas ficar sem te olhar. Sentes um arrepio na espinha porque te toca. Ficas imóvel por uns instantes. Não consegues ter raiva nem mágoa, nem tão pouco desalento. Sem Género começa a fazer-se sentir mas tu ainda não vês tudo. Enquanto estavas imóvel nem deste conta como os teus olhos cerraram e absorveram o mundo, não deste conta que sorriste… Voltas, sabe-se lá de onde, e tentas redefinir-te mas não dás parte fraca. Pensas que Sem género não percebe que o fazes. Pergunta-te porque não te questionas, porque não lhe questionas o nome. Pergunta-te do que foges se até aqui não te fez mal, antes pelo contrário… Falas sozinho: Sei que resisto, que me desafias, me incomodas, que me desconcertas mas não creio estar preparado para saber mais que isto.
Sem Género faz-te fechar os olhos e diz-te que mesmo que não vejas podes sempre sentir. Baralha-te com o discurso, com o comportamento, baralha-te a ti próprio. Confunde-te porque te mostra mais uma carta saída de um baralho colorido sem caras. Contorces-te para saber o que tudo isto significa…
Sorri e diz-te, “volto de madrugada quando a insónia chegar, mostro-te mais um pouco… disto…”

A quem chega sem avisar…


Num sítio escuro chega alguém sem avisar e vai logo entrando. O à vontade, o querer de outros, o abrir da minha porta … Confusão! Julgava não querer saber!
Num instante sente-se e pressente-se … Vejo -me se te sinto e sinto-me menina porque me embrulho e amarro sem ter nexo no laço!